quarta-feira, 2 de julho de 2008

SOBRE MORTE E POESIA



Morte e poesia deveriam ser um binômio para reflexão de todos nós. Principalmente os cristãos, pois o morrer para os cristãos é algo poético - rsrsrsrs.... pois sabemos para onde vamos e com quem estaremos!


"Aniquilará a morte para sempre, e assim enxugará o Senhor DEUS as lágrimas de todos os rostos, e tirará o opróbrio do seu povo de toda a terra; porque o SENHOR o disse" Rm 12:12

A um ausente

Tenho razão de sentir saudade, tenho razão de te acusar. Houve um pacto implícito que rompestee sem te despedires foste embora. Detonaste o pacto. Detonaste a vida geral, a comum aquiescência de viver e explorar os rumos de obscuridade sem prazo sem consulta sem provocação até o limite das folhas caídas na hora de cair.

Antecipaste a hora. Teu ponteiro enlouqueceu, enlouquecendo nossas horas. Que poderias ter feito de mais grave do que o ato sem continuação, o ato em si, o ato que não ousamos nem sabemos ousar porque depois dele não há nada?

Tenho razão para sentir saudade de ti, de nossa convivência em falas camaradas, simples apertar de mãos, nem isso, voz modulando sílabas conhecidas e banais que eram sempre certeza e segurança.

Sim, tenho saudades. Sim, acuso-te porque fizeste o não previsto nas leis da amizade e da natureza nem nos deixaste sequer o direito de indagar porque o fizeste, porque te foste.


Carlos Drummond de Andrade



Alguns vêem neste poema de Drummond um suicídio, mas como o texto poético me possibilita um leque de leituras, me atenho a idéia de morte, uma simples morte. Caso você seja um leitor mais impertinente, possibilito-te uma outra leitura, sem suicídio - rsrsrsrs....


Ausência


Por muito tempo achei que a ausência é falta.

E lastimava, ignorante, a falta.

Hoje não a lastimo.

Não há falta na ausência.

A ausência é um estar em mim.

E sinto-a, branca, tão pegada, aconchegada nos meus braços,

que rio e danço e invento exclamações alegres,

porque a ausência, essa ausência assimilada,

ninguém a rouba mais de mim.

Carlos Drummond de Andrade

2 comentários:

Diz aí... o que pensas?