sexta-feira, 30 de dezembro de 2011

QUATRO QUASE ILUSÕES...

Beto Guedes
Na música "quatro"
diz assim: "A nuvem pálida no céu desses meus desejos
encobre toda a paz
e põe no meu caminho quatro ilusões
Amar, viver, cantar e ser
o que eu não posso negar"


Entendes?
Não.

Permita-me explicar...

São quatro ilusões em nossa existência:

Amar,

viver,

cantar

e ser
o que eu não posso negar

Mas sem ilusões ficaria assim...

Amar você...

viver com você...

cantar você...

e ser
o que eu não posso negar, totalmente seu...


A ENCANTADORA DA NOITE

De noite
Bem de noite
Na total ausência do dia
Conheci você

Bela, dada, riso fácil
e conversa encantadora...

Mas aí veio o dia
E como já não era noite
Sumiste

E eu, desde então
Fico a querer transformar todos os meus dias em noites
pra ver se um dia consigo te encontrar...

terça-feira, 22 de novembro de 2011

Foste

TIVE ALGUÉM QUE ME CHAMAVA DE PETER PAN
ERA A MINHA SININHO


ELA, COMO FADA APARECEU
E COMO FADA DESAPARECEU


ELA NÃO ENTENDEU QUE NÃO QUERO CRESCER
AÍ ELA FOI EMBORA CRESCER SOZINHA


E EU CONTINUO AQUI
ESCREVENDO BOBAGENS COMO A CRIANÇA QUE SOU


NA ESPERANÇA DE UM DIA ELA NOVAMENTE ME LER...

quinta-feira, 13 de outubro de 2011

FUNERAL DE MORTO


- Depois que me deixaste, eu sofri.


- Sofri tanto, tanto, tanto... pensei que iria morrer. Era uma tristeza que vinha de cima, de baixo, do lado, de frente, de trás. Deixei até de tomar sorvete porque lembrava de ti.


- Não fazias questão de te esconder com outras mulheres, passavas por mim com elas e parecias zombar de mim pra elas, pois todas elas sorriam ao passar por mim... aquilo me afligia, deixava-me louca, era um misto de vergonha, tristeza, arrependimento. Eu perguntava pra mim mesma: - Por que ele faz isso comigo? Eu só o amei. Fazia tudo pra ele. Tratava-o como rei...


- Depois de ti nunca mais fiquei com ninguém. Criou-se um medo em mim...


- Nossa filha... nossa filha, tua única filha, tão linda, tão inteligente, tão doce, nem a ela respeitaste... como pôde deixá-la vê-lo com outra em nossa cama? És um animal irracional. Ela nunca fala disso, só prefere não ver suas fotos, nem ouvir falar teu nome. Tenho a impressão que a palavra pai a incomoda. No dia dos pais ela se tranca no quarto e passa o dia inteiro ouvindo música alta e assistindo aos filmes baixados da internet. Só a vemos no dia seguinte, com um sorriso cinza, quase triste que vai se colorindo com os outros dias até ficar cinza e quase triste no próximo dia dos pais...


- Nunca tentaste se reaproximar, nunca demonstraste arrependimento, nem um cartão, nem uma ligação. Não precisava ser pra mim! Mas para a tua filha, pra tua filha, pra tua filha, seu filho da puta, miserável, bandido... nós te amávamos! Nós te amávamos... (choro forte, soluço, choro descontrolado...)


Ninguém sabia o que fazer... todos estavam ali escutando o desabafo íntimo público... até que a filha veio até ela e a tirou de cima do corpo do pai...


Ela, desesperada, abraçava a filha com força e gritava: - Ele se foi! Ele se foi! Teu pai se foi... (choro alto e forte).


A filha, com serenidade sobrenatural, abraçou a mãe com força, afastou o rosto dela de seus ombros, olhou nos seus olhos e disse: - Ele se foi há muitos anos. Continuaremos só nós duas como sempre foi.

terça-feira, 4 de outubro de 2011

RONDA

“De noite eu rondo a cidade
A lhe procurar, sem encontrar
No meio de olhares espio
Em todos os bares
Você não está...
Volto prá casa abatida
Desencantada da vida
O sonho, alegria me dá
Nele você está...
Ah! Se eu tivesse
Quem bem me quisesse
Esse alguém me diria
Desiste, essa busca é inútil
Eu não desistia ...
Porém com perfeita paciência
Volto a te buscar
Hei de encontrar
Bebendo com outras mulheres
Rolando dadinhos
Jogando bilhar...
E nesse dia então
Vai dar na primeira edição
Cena de sangue num bar
Da avenida São João...”

(Paulo Vanzolini)



Conheceram-se adultos. Ela, sempre muito estudiosa, tirou o ensino médio aos 17, entrou cedo na faculdade de pedagogia e lá o conheceu. Ele, da turma do fundão, tirou o ensino médio via supletivo, sem apoio de pai ou mãe, começou a trabalhar cedo e sabia o que era a dureza da vida.


Na faculdade de pedagogia particular que estudou, conheceu-o na máquina de xerox. Ele era o famoso João da cópia, ralou demais para conseguir aquele espaço, trabalhou na feira, lavou o carro do reitor por alguns anos, juntou dinheiro, comprou a máquina e negociou o espaço diretamente com o reitor. O que lhe custaria ainda algumas lavagens de carro quinzenais, fora o aluguel. Mas homem de trabalho que era não tinha medo da dureza e conseguiu seu espaço. Aprendeu a mexer com a máquina de xerox com um senhor com o qual havia trabalhado anos atrás.


Ela, a professorinha, tinha sempre desconto nas cópias com ele, às vezes nem pagava. Ela aceitava, pois a quantidade de cópias pesava no orçamento.


Jovens, recém-adultos, depois de tantas cópias, tantas páginas, apaixonaram-se.


Ele, como em todo início, mil gentilezas, muitos filmes, nada de amigos, era somente ela. E ela por sua vez, sem cobranças, muito pão de queijo, beijos e amores.


Casaram-se. Ela formada, concursada e lotada em uma escola no centro, rua São Bento, início da São João. Ele, microempresário do ramo de cópias, já mandava alguém lavar o carro do reitor. Nunca ficariam ricos, mas conseguiram se livrar da extrema pobreza e fixaram-se num apartamentozinho apertado entre os prédios ocupados com escritórios de representações, advogados, médicos ou outra atividade prestadora de serviço. Para ele a facilidade para lidar com a boemia do centro, para ela a facilidade de morar perto do trabalho.


O tempo passou e com ele veio a rotina, a mesmice, um desafeto sereno, o descuido descuidado, as horas se passam, o futebol toma mais tempo, a bebida com os amigos se torna frequente, camisa com marcas de baton, perfumes estranhos...


Ela, por sua vez, aumenta a carga horária de aulas, traz mais trabalho pra casa, são mais provas para elaborar e corrigir.


Os dois se envolvem numa ausência presente mútua. Surgem as brigas, discussões mais ríspidas. Ela prefere as provas e ele os amigos, ela a escola e ele o bar, dificilmente jantavam ou almoçavam juntos.


Ela, mais do que ele, incomodava-se com a demora na noite, feria-lhe o baton, pertubava-lhe os estranhos perfumes . Ele, agora frio e distante, pouco se ocupava dela.


Numa dessas noites solitárias, ela se ocupou de pensar nele, bateu uma saudade antiga, ela levantou do sofá, foi ao quarto pegou uma camisa dele e se irritou com o estranho perfume, revirou os bolsos e leu o bilhete manchado de baton e com cheiro de cerveja e cigarro que dizia: “ela não te merece, vamos fugir”.


Uma mistura de raiva, dor e mágoa se apoderaram dela e, mesmo de noite, ela saiu a rondar a cidade a lhe procurar, mas sem o encontrar.


Ela continua e no meio de olhares espia em todos os bares e ele não está.


Volta pra casa abatida, desencantada da vida, mas mesmo assim, nesta noite sonha com ele e se alegra.


Ela não foi trabalhar, liga para uma amiga confidente, fala sobre a ausência do marido, a indiferença, a distância, a frieza, a inércia, a tristeza, a dor, a angústia, a desilusão e a amiga sentencia: - Desiste, essa busca é inútil.


Mas ela não desiste, ela sabe que ele está ali, tão perto e tão longe, pelos bares... bebendo sua vida. Com perfeita paciência, ela volta a buscá-lo e o encontra bebendo com outras mulheres, rolando dadinhos e jogando bilhar...


E um dia depois deu na primeira edição: “Cena de sangue num bar da Avenida São João”.


Trecho da notícia: “(...) testemunhas deram conta de que a jovem chamou a vítima, mas a vítima a tratou com indiferença, virou um copo de cerveja, puxou uma mulher que estava na roda e a beijou. A jovem tirou da bolsa um revólver calibre 38, de acordo com a perícia. Todos correram, menos ele. A mulher beijada por ele também correu, ele tomou mais um gole de cerveja, sentou em uma cadeira e a olhou nos olhos. Ela, por sua vez, perguntou: - Por quê? e disparou um tiro certeiro no meio da testa da vítima, ele nem tombou da cadeira, só a cabeça que caiu por cima do ombro e ali morreu de olho aberto. Logo em seguida ela olhou para os lados e, chorando muito, deu um tiro na boca e caiu por cima da poça de sangue da vítima (...).



sexta-feira, 2 de setembro de 2011

Das desigualdades sempre iguais...

No país da corrupção
quem tem vez é ladrão
Viva o Brasil
Viva Roriz
Entorte o nariz, mas continua a Roriz
Na legislativa do Pará, não para, não para, não para
Todo dia tem nova denúncia
é guerra de licitações fraudulentas
Todo mundo levou um pocão, só o povo ficou de pires na mão...
Preso?
Quem foi preso?
Ninguém, abestado.....
Agora o mínimo é 619...
Alguém sugeriu - arredonda prá 620
e outro gritou - Ô imbecil, esse é o máximo que se dá para o mínimo...

Folha de São Paulo 03/08/2011: "STF aprovou salários de R$ 30,6 mil"

mínimo R$ 619,21
STF R$ 30,6

Olhando rápido... parece até que ganhamos mais - hahahaah...

domingo, 27 de março de 2011

Nos vemos o quanto antes...



Não poderia ser outra foto, tinha que ser essa, pois nela vemos o teu sorriso e o reconhecimento de teu talento... (vemos também o quanto eras baixinho - rrsrsrsrsrs..)

Dia 24 último achaste de nos deixar, assim, sem avisar, quando te chamaram no céu, foste e nem olhaste para trás... mas não esquenta não... eu também faria o mesmo... aqui é muito chato...


Imagino-te fazendo Davi rolar de risos aí no céu, vejo-te aguarrado nas saias da irmã Maria José, como criança cansada da ausência da mãe amada, cansada da vida adulta chata aqui da Terra, casada de vendas, cansada de tantas viagens, casada de tantos ensaios, tantas cantatas... casada da séria vida adulta (seriedade de adoravas contrariar...).


Estavas cansado de fazer de todos os problemas mais uma piada, mas de todos os cansaços possíveis, sei que DEUS cansou de viver no céu sem a alegria do João, a humanidade não te merecia mesmo, eras daqueles "DOS QUAIS O MUNDO NÃO ERA DIGNO"...


Sei que agora acabaram-se as vendas, as viagens e os ensaios.


Mereces, mais do que todos nós aqui na Terra, o descanso, a paz, a eternidade... a nós, resta a saudade alegre, a alegria triste de tua ausência, a certeza plena de onde estás, a felicidade compartilhada por saber que estás em nobre companhia, resta-nos a tristeza da partida, mas também nos resta a alegre certeza do reencontro... reencontro este breve... muito breve...


Obrigado, João!


... e até mais logo... aí, no céu!


"Perece o justo, e não há quem considere isso em seu coração, e os homens compassivos são recolhidos, sem que alguém considere que o justo é levado antes do mal. Entrará em paz; descansarão nas suas camas, os que houverem andado na sua retidão." (ISAÍAS 57:1-2).

terça-feira, 1 de fevereiro de 2011

Incrédulos

Sou íncola
Das palavras frias, quase cinzas...

Sou incompassível
Dos que não amam ler...

Sou inconcusso
Dos que entendem a vida, mas não entendem a arte...

Sou inconspícuo
Dos que me amam em vida...

Sou inconsulto
Dos que consultam a vida...

Sou incorpóreo
Dos que buscam o belo...

Sou incorreto
Incorrigível
Incorruptível
E de tantos “ins”
Incrédulo dos que se dizem sem fé em DEUS...

Das sem nexo...

Da inútil ausência se aproveita a aurora
Na feroz jornada se aproveita a estada
De quando se está sozinho se aproveita o nada
E da feliz jornada se aproveita o fora

Das palavras sem nexo, das idéias incivis
Se faz um poema relapso que não será nem lido e
Que logo será abatido...