A universidade esperava-me com as suas matérias árduas; estudei-as muito
mediocremente, e nem por isso perdi o grau de bacharel(...)
Brás Cubas
Não sei se amei esta obra, mas amei esse período composto exposto acima. Como estudante de Letras tive de ler Memórias Póstumas de Brás Cubas e nesta leitura paralisei-me no seu capítulo XX, capítulo com o seguinte título: Bacharelo-me.
Sei que como estudante de Letras, apaixonado pela prática docente e coisas da educação, o ideal para mim seria licenciando-me, mas independente dessas falácias entorno de nomenclaturas, Brás Cubas coaduna com a minha impressão da universidade: um lugar de opressão!
A universidade é antipática, formalista, dona da verdade, e o pior de tudo, acha que pode nos conceder um excelente futuro! A universidade entende muito de formalidades acadêmicas e cerimônias de formatura, mas a universidade sabe muito pouca da vida, a universidade não nos ensina afetividade, a universidade não nos ensina cooperação, a universidade não nos ensina a como nos livrarmos desse capitalismo selvagem que coloca as pessoas numa arena pela busca da sobrevivência, pelo espaço numa empresa x ou num colégio y. A universidade tem se prestado a fomentar a disputa, a intriga, o jogo da conquista pela entrada no tal do ‘mercado de trabalho’.
Tudo isso me fez sonhar com a universidade ideal, que de tão ideal agradaria até o nosso exigente Brás Cubas, compartilhem comigo da universidade ideal: Era uma vez um lugar em que as pessoas se reuniam para construir conhecimento. Lá não haviam disputas por bolsas de pesquisas, pois somente os que precisam realmente desse dinheiro pesquisavam com o mesmo, mas a maioria das pessoas pesquisavam por amor ao conhecimento e compromisso com o seu meio social. Nesse lugar seria banida a figura do professor, aquele professor de profissão como nos denuncia Rubem Alves, e surgiria a figura, quase extinta, do educador, não mais por profissão, mas agora por vocação. No inicio de semestre todos começavam já com 100 pontos e não mais com 0 como essa figura extinta do professor adorava ressaltar, e no final as pessoas terminariam com a nota que mereciam e não com a que o professor lhes achava mais (in)justa. Nada de rigor com prazos, cada ser humano tem o seu prazo, esse prazo é determinado pelo que constrói o conhecimento e não por aquele que o espera pronto com uma caneta, geralmente vermelha, na mão. Esse espaço seria público e gratuito, e só quem tivesse consciência moral, ética e social contribuiria com o valor que pudesse.
Ainda me faltaria tempo a falar da biblioteca, da ausência das figuras irrelevantes como reitor(a), pró-reitor(a), coordenador(a), essas figuras que nunca vemos durante a tal da graduação, tão (des)valorizada em nosso tempo, faltar-me-ia tempo a falar de muitas coisas, mas creio que do básico já falei: A universidade precisa se utopizar, precisar ver humanos para além das figuras do aluno e professor. Porque senão haveremos de escutar por muitos e muitos anos uma das impressões mais brilhante de Brás Cubas: A Universidade me atestou, em pergaminho, uma ciência que eu estava longe de trazer arraigada no cérebro, confesso que me achei de algum modo logrado, ainda que orgulhoso.
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