sábado, 29 de março de 2008

Das coisas da morte

Ontem, próximo a mim, falaram de cemitério, falaram algo do tipo “meu amigo mora num cemitério...”. desprezando a estranheza da informação me peguei a refletir sobre o cemitério.

Para alguns, o cemitério representa tormenta, tristeza, dor e angústia, mas aqui entre nós meu querido leitor, cemitério é, além de descanso, saudade!

É lugar de gente morta, pessoas já sem vida, inertes, indiferentes... Quando se ouve algo em cemitério, se ouve choro, nada além do que choro, lágrimas e saudade, sem contar um cheiro de flores tristes.

Saudade também me parece uma metonímia de cemitério, pois a associação entre cemitério e ausência é automática, cemitério é saudade, ausência, impossibilidade extremada da presença do ausente.

Daí rolam algumas lágrimas, surge a vontade louca da presença, de um longo e apertado abraço, queremos ter, desfrutar e sentir a presença do eterno ausente. Mas como nos disse Guimarães Rosa “um demasiadamente ausente” impera, nada de voz, nada de cheiro, só lembrança.

Termino dizendo ao “morador de cemitério”, provocador desse escrito, que cemitério não é presença de mortos, é só uma insofismável e perturbadora ausência de vivos, por isso, não tenha medo!

Mas não se esqueça de uma última e dolorida lição: a ausência dos vivos causa muito mais dor que a torta presença de alguns vivos, pois enquanto há vida há esperança, mas na morte a ausência implacável só nos permite a esperança da saudade.

“Coração, por que tremes? Vejo a morte

Ali vem lazarenta e desdentada...

E que noiva!... E devo então dormir com ela?

Se ela ao menos dormisse mascarada!”

(Álvares de Azevedo – O poeta Moribundo)

Um comentário:

  1. Me bateu muita saudades lendo essas palavras...
    desceram as lagrimas lembrando do meu maior amor que se foi deixando muitas saudades e lembranças,o porque eu não sei, o que eu sei é que ele nunca mais vai voltar, não entendo e não aceito o motivo de ele ter ido tão cedo deixando tantas pessoas que o amavam.....

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